domingo, 18 de março de 2012

Um cidadão do mundo

Descobri a história de Nuno Lobito há pouco tempo; aparentemente um cidadão como os demais, na prática um homem que correu atrás de um grande sonho. Este fotógrafo de 45 anos concretizou no passado dia 11-11-2011 o seu sonho de criança de "visitar todos os países do mundo". Budista de religião, o viajante português visitou os 204 países do mundo, 11 dos quais "ditos independentes". (É curioso como o número de países do mundo é uma questão tão simples, mas que gera tanta controvérsia).
Durante 29 anos, Nuno arrecadou histórias, vivências e fotografias numa invejável bagagem, a sua experiência de vida. O seu trabalho propiciou muitas destas viajens, mas o acontecimento que o fotógrafo considera como o ponto de viragem desta odisseia foi a sua estadia em Madagáscar. Neste país, o fotógrafo é atingido por malária, doença que o fez permanecer no país por dois anos. Aquando dessa estadia, as febres altas e alucinações típicas deste tipo de parasitose provocaram-lhe uma visão especial… Nuno viu que na sua futura viagem à Amazónia iria conhecer uma mulher por quem se apaixonaria. Amante da vida e crente no futuro e nas imprevisibilidades da existência, a perseguição desta visão foi levada muito a sério por este homem, que anos mais tarde voava para o pulmão do mundo… A concretização da sua visão facilmente poderia resultar numa história digna de qualquer filme, mas foi mais do que isso, faz agora parte da sua realidade!
Nuno chegou à Amazónia e foi acolhido por uma tribo indígena; durante a sua estadia, foi conquistado pela beleza e misticismo de uma índia, Carol. Este “percalço” fez com que interrompesse a sua viagem, permanecendo na floresta sul-americana durante 5 anos.
Regressado temporariamente a Portugal e acompanhado da mulher com quem havia casado na Amazónia, Nuno Lobito, alvo das forças da natureza que o premiavam com tantos momentos felizes, decidia que “acabar o mundo” seria uma meta a alcançar exactamente no dia 11 de Novembro de 2011. A escolha desta data deve-se à existência de uma energia cósmica especial neste número, segundo a crença budista.
Percorridos todos os cantos do mundo, conhecendo diferentes culturas e hábitos do ser humano em geral e algumas histórias de vida em particular, Nuno deixa a Islândia para o final desta grande viagem. No regresso a Portugal, o sentimento de concretização pessoal é experienciado por um homem que certamente será mais feliz, mais humano, que estará mais perto do mundo.
Esta é uma experiência que não passando de um sonho para uns, é um projecto de vida para outros; outros que serão mais homens, numa perspectiva globalizante. Homens que não conhecendo tudo o que o mundo nos oferece, conhecem um pouco da realidade de cada país. Arrisco dizer que estes homens saberão bem a inutilidade do racismo e das suas manifestações, pois nós somos apenas um ínfimo bago de areia num deserto tão rico em diversidade e multiplicidade de culturas e pessoas. Somos apenas um povo entre tantos povos e não termos essa consciência é sermos ainda mais pequenos. Conhecer este mundo é certamente ter a consciência de que não há políticos nem políticas ideiais, não há modelos económicos que satisfaçam todas as classes sociais e que não há nações, raças ou religiões superiores a outras.
Este é certamente um cidadão do mundo, que terá uma noção de cultura e de civilização bem mais ampla dos que têm poder económico para fazer turismo em destinos de luxo, mas que nunca conhecerão a realidade dos povos que vivem por detrás dos resorts... (e consentemente serão mais ignorantes acerca da sua!)

1 comentário:

João Simas disse...

Uma atitude importante e fundamental para combater preconceitos é conhecer os outros e compreendê-los, viver também na pele de quem se quer conhecer. Certamente não basta viajar, porque há também quem viaje e só veja hotéis e praias, protegidas por vedações, para que os pobres não estraguem os sonhos da publicidade. Há quem viaje e fique na mesma; outros transformam-se e quando regressam têm outro olhar. Doenças como a malária também já existiram em Portugal (hoje residuais), tal como a cólera e outras, lepra etc. Não é só pelo clima que há epidemias.