quarta-feira, 21 de março de 2012

Nobel da Paz desrespeita Direitos Humanos

A presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, numa entrevista conjunta com o ex-primeiro minintro britânico Tony Blair, ao ser confrontada com as leis liberianas que condenam atos homessexuais, defendeu tais ações dizendo que a sua sociedade tem valores tradicionais que quer preservar.




Ellen Johnson Sirleaf ganhou o prémio Nobel da Paz em 2011 devido à sua luta pela segurança e pelos direitos das mulheres na participação na vida política e num trabalho pacífico, tudo através de um método não-violento.










Nesta entrevista são confrontados dois lados completamente opostos. Quando Tony Blair esteve no poder foram aprovadas inúmeras leis a favor dos gays e das lésbicas como, a título de exemplo, a permissão para pertencerem ao exército. Temos num lado o Reino Unido liberal, que aceita a diferença, a inovação, é tolerante. Já Libéria, por outro lado, é um dos países africanos que proíbe explicitamente a homossexualidade e onde a intolerância é cada vez maior. Temos como exemplo desta intolerância e desta discriminação os ativistas anti-homossexuais que querem aprovar ainda mais projetos lei que condenem quem tem outra orientação sexual. Duas dessas propostas são: o ato sexual entre duas pessoas do mesmo sexo seria punível com cinco anos de prisão e o casamento entre pessoas do mesmo sexo passaria a ser um crime de dez anos de prisão.


Pergunto eu como é possível que uma vencedora do prémio Nobel da Paz e defensora dos direitos das mulheres possa ser tão retrógrada ao ponto de condenar quem possui uma orientação sexual que não vá de acordo aos valores tradicionais? Não andarão um bom governo e a Declaração Universal dos Direitos do Homem de mãos dadas?

Esta senhora ao tomar estas medidas e ao punir severamente os homossexuais está a ir contra o Artigo 2º da Declaração universal dos Direitos do Homem que diz o seguinte:




"Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania."




Ellen Sirleaf, não pode, segundo o documento acima citado, condenar aqueles que têm uma orientação sexual diferente Está implícito no artigo 2º que todos os seres humanos são iguais e livres independentemente daquilo que vestem, daquilo em que acreditam e podemos incluir em "qualquer outra situação" a orientação sexual. Esses direitos a que TODOS os cidadãos do mundo podem recorrer são por exemplo o direito a todas as liberdades, incluindo a liberdade de escolha e de expressão! Se a pessoa "A" ama a pessoa "B" que é do mesmo sexo pode escolher ficar com ela e mostrar ao mundo que estão juntas sem serem punidas!


O argumento usado pela presidente da Libéria não é assim tão bom. Se formos analisar bem a História, se não tivesse sido essa quebra dos valores tradicionais, Ellen Sirleaf nunca teria chegado a presidente, as mulheres continuariam sem direitos num mundo em que os homens governariam. Por isso a ruptura com os valores tradicionais, a inovação e a tolerância são sem dúvida acontecimentos marcantes da História que são necessários e ninguém, adaptando para o contexto da situação acima descrita, tem o direito de mandar ou de escolher de quem o indivíduo "A" tem de gostar e tem de estabelecer uma relação só porque têm (citando Ellen Sirleaf) "valores tradicionais (...) que gostariam de preservar"!

1 comentário:

João Simas disse...

Por trás da tradição pode esconder-se muita coisa! Evidentemente que há muitas contradições, a começar pelo nome do próprio estado, Libéria, criado artificialmente (como quase todos em África, mas como uma nova pátria ou "um regresso" para os escravos libertos na América. Por cá também tivémos uma longa tradição de punir os homossexuais, por vezes misturando outras acusações com outros fins. Por exemplo, o caso do capitão Barros Basto, acusado de pederastia e expulso do exército. Tinha sido um herói da 1ª guerra mundial e converteu-se ao judaísmo. Como participava nas cerimónias de circuncisão foi acusado de perverter rapazes!