terça-feira, 13 de março de 2012

A fé da ministra



Portugal é um país de clima Mediterrânico, está localizado numa posição estratégica, rodeado pelo mar e com uma grande quantidade de horas diárias de sol. Estão então reunidas todas as condições para que seja um país bastante produtivo e para que a agricultura, a pesca e a criação de gado sejam os pilares da economia do país. Mas isso era há muito, muito tempo atrás. A verdade é que se hoje percorrermos o país de norte a sul são mais os campos que estão por cultivar do que aqueles que estão cultivados.
As situações de seca no Verão são frequentes em Portugal Continental devido às altas temperaturas, embora a sua incidência não ocorra de forma uniforme em todo o território. Acontece que em pleno Inverno, tal não é de todo normal. Este ano a precipitação foi escassa, praticamente não choveu. Esta situação fez com que todo o território continental mergulhasse numa situação de seca extrema verificando-se numa grande parte das regiões interiores problemas graves de fornecimento de água, tendo havido a necessidade de se recorrer a meios alternativos para garantir o abastecimento das populações.

Para minimizar os impactos causados no sector agrícola, Fevereiro teria de ser um mês bastante chuvoso para reverter a situação, visto que embora chova na Primavera essa precipitação nunca será em quantidade suficiente, mas, tal não se verificou e desde 1931 que já não se vivia um Fevereiro tão seco. Mas a falta de chuva não tem repercussões apenas no sector agrícola, as pastagens de Inverno serão bastante afectadas e tenderão a desaparecer pois ficarão mais sensíveis e vulneráveis a pragas e, o sector animal é o que mais sofre. Com as pastagens a desaparecer, o gado começa a ser alimentado à mão com palha e fenos que estavam guardados para o Verão, aumentando assim o prejuízo dos criadores de gado. Face a isto, o governo terá de fazer, rapidamente um levantamento do impacto do problema e dos prejuízos da falta de água em todos os sectores para accionar mecanismos de ajuda europeia. Assim, foi criada uma “task force” que faz esse levantamento “através de diversos organismos oficiais, que estão em contacto com as associações do sector, para "monitorizar", "sinalizar" e "fazer a previsibilidade dos prejuízos".
Na comissão Parlamentar da Agricultura que se realizou dia 21 de Fevereiro, Assunção Cristas, ministra do Ambiente, do Mar, da Agricultura e do ordenamento do território afirmou entre outras coisas, o seguinte “sou uma pessoa de fé, esperarei sempre que chova e esperarei sempre que a chuva nos minimize alguns destes danos. Como é evidente, quanto mais depressa vier, mais minimiza, quanto mais tarde, menos minimiza. Se não vier de todo, não perderei a minha fé mas teremos obviamente de actuar em conformidade". Esta afirmação suscitou-me alguma confusão e não está relacionada com o facto de a senhora ministra ser católica ou não mas sim com "se não vier de todo" é até quando? Até quando o pedido de ajuda europeia se vai arrastar?

Ora, a população portuguesa é maioritariamente católica, cerca de 85% segundo os censos de 2001. Mas e os outros 15%? A quem pedem a chuva?
Até agora, ainda não caiu uma única pinga de água. Das duas uma: ou o São Pedro não está de todo do lado dos Portugueses, ou então estes andam tão ocupados a tentar arranjar soluções com as suas próprias mãos enquanto a ajuda do governo não chega que nem tempo têm para levar as mãos ao céu.
Continuem a rezar, continuem a rezar…

2 comentários:

João Simas disse...

Há muita coisa que se pode produzir em Portugal de forma diferente dos países do Norte da Europa. Há muitas questões que se podem pôr: será a Política Agrícola Comum a mais adequada ou ela protege mais a agricultura intensiva que faz produtos normalizados em detrimento do sabor, com contaminação dos solos e do ambiente em geral. Porque se produz e se desperdiça tanto só por não obedecer a padrões definidos por outros? O que se tem feito para promover a comercialização? Se temos água (muito mais comparativamente com outros países do Mediterrâneo)porque é que ela não é mais recionalmente utilizada (veja-se o que há ainda a fazer com Alqueva). Porque é que o Estado e a sociedade portuguesa não investem mais na formação dos agricultores ou futuros agricultores (por exemplo a E.S. Severim de Faria já teve aberto um curso nessa área e não houve candidatos)?
Haveria também que ver o que fazer com a má utilização da terra. Ter terras abandonadas é um problema só do proprietário ou da sociedade? Poderemos competir com uma agricultura diferente? Há exemplos que mostram que sim. Veja-se o exemplo da vitivinicultura ou o azeite de qualidade que estão em expansão.

Pedro Borlas disse...

É realmente espantoso como uma figura de estado importante como a ministra Assunção Cristas relata a questão de falta de chuva como algo em que se deve ter fé. Como é que se consegue chegar ao ponto onde os governantes de Portugal olham mais para o seu bolso e para a sua vida e se esquecem da sua função essencial? Como pode uma ministra dirigir-se à população que trabalha no sector primário e exige que estes tenham fé, e que basicamente não contem com os apoios do estado? Vivemos realmente uma crise, não económica, não social, mas sim política e de liderança.