terça-feira, 13 de março de 2012

“As diferenças entre homens e mulheres são sobretudo culturais” Lise Eliot

Este artigo, retirado do site da revista Super Interessante e publicado na edição 161 (Setembro de 2011) desta mesma revista, tem como tema principal as supostas diferenças acentuadas nas capacidades e habilidades de cada género. Inclui uma pequena entrevista a Lise Eliot, neurocientista norte-americana que se tem dedicado ao estudo das desigualdades entre rapazes e raparigas, tentando comprovar que a maior parte é apenas de senso comum e que, na realidade, a lista é curta. Para completar a sua pesquisa e justificar a sua argumentação, Lise Eliot publicou o seu mais recente livro “Pink Brain, Blue Brain”
No começo do artigo, é-nos sugerido que, até mesmo numa simples circunstância de uma aula de laboratório, podem ser visíveis as diferentes reacções dos alunos no que diz respeito ao manuseamento de um cérebro humano. O normal era as raparigas sentirem-se enojadas, desconfortáveis com a situação e dar alguns “gritinhos”. Porém, tal como a neurocientista refere, estas reacções são, por vezes, o resultado de um reflexo condicionado há muito aprendido. Relacionando esta observação contida no artigo em questão com a matéria abordada na sala de aula relativa a Pavlov, entendi que, de certa forma, as alunas do sexo feminino foram educadas e ensinadas a não demonstrarem qualquer satisfação quando vêem um órgão do corpo humano, por exemplo. Isto é, o mais normal seria, os rapazes “deliciarem-se” com a presença de um cérebro e mostrarem curiosidade em explorá-lo.
Considero interessante a passagem em que a professora sugere aos pais que tenham uma mentalidade aberta acerca deste assunto dado que a personalidade e as habilidades dos filhos nem sempre tem que “encaixar” nos estereótipos. Estereótipos esses sustentados pela gramde pressão social existente para que, por exemplo, os rapazes gostem mais de azul e de carros. Quando um jovem tenta sair destes padrões ditos “normais” é, normalmente, julgado e mal interpretado pela sociedade. Neste sentido, acho interessante que Lise Eliot aconselhe os pais, visto que são os responsáveis pelo desenvolvimento dos jovens e devem, juntamente com os professores, estimular uma educação para a igualdade de géneros. Citando a entrevistada “quanto mais controlo for exercido por pais e professores e mais igualitária for a educação que lhes oferecem, mais se irão parecer entre si. Quanto menos os controlarmos, mais diferentes serão, pois existe uma grande pressão social que os leva a seguir em direcções distintas, se os deixarmos sem preparação e educação.”
A minha opinião acerca deste problema vai de encontro à de Lise Eliot. Penso que as diferenças entre rapazes e raparigas não são assim tão significativas como a sociedade nos faz crer e, por vezes, têm tendência para se acentuarem devido a estratégias de marketing e a padrões de consumo. De certa forma, também penso que chegam a ser os próprios homens e mulheres que pretendem ser vítimas destas discrepâncias de capacidades, por não gostarem de ser vistos como iguais e por preferirem estimular uma barreira que os divide, tornando incessante a famosa “guerra dos sexos”.
Durante a leitura desta breve entrevista ocorreram-me algumas perguntas: até que ponto a forma como uma criança é educada pode definir a sua personalidade? Será que o facto de uma jovem rapariga ser instruída só na companhia de homens leva-a a ter para um comportamento maioritariamente masculino? Em que medida a pressão social condiciona os gostos de uma criança?
Lamento a existência de pouca investigação neste campo de pesquisa, mas, após a leitura deste artigo, a minha opinião inclina-se para a de Lise Eliot, como já referi, devido ao seu fundamento nos estudos de neurocientistas de grande prestígio e reconhecimento.
Por fim, considero que a sociedade tem vindo a desenvolver progressivamente uma consciência mais acentuada na defesa da igualdade de oportunidades, instaurando estes valores em diversos sectores sociais. E, com base nas declarações de Lise Eliot, penso fazer todo o sentido, dado que “as diferenças entre homens e mulheres são sobretudo culturais”.

2 comentários:

André Nobre disse...

É realmente um assunto muito interessante que deve ser estudado mais profundamente. Tudo o que envolve o fosso entre rapazes e raparigas não é afinal assim tão bem delimitado, existindo ainda muito por analisar e estudar. No entanto partilho da tua opinião e considero que as diferenças nas atitudes e posturas entre rapazes e raparigas é meramente uma questão cultural, variando, lá está, com o tipo de educação e de ambiente sócio-económico em que a pessoa em questão cresceu e vive. Acho também que na questão que se põem muitas vezes sobre as capacidades do sexo feminino ou masculino, se deveria pensar duas vezes quando se afirma algo, pois um caso particular não representa de forma fidedigna um todo, caindo-se muitas vezes na argumentação pouco fundamentada e levando a discussão a um ponto superficial.

João Simas disse...

Há estudos, mas há muitos preconceitos de género que contaminam os estudos. A questão é essencialmente cultural, a sociedade vai definindo desde pequenos um papel e um estatuto para cada género, mesmo que isso seja feito sem consciência disso, que é quando dá mais resultado. Há diferenças, por exemplo no alcance da maturidade, mas isso também tem sido diferente em sociedades diferentes. Há estudos sobre a diferença de cérebros mas também se tem provado que parte dessa diferença é adquirida e que o cérebro muda. é a questão do inato e adquirido que tantas polémicas tem levantado.
O exemplo dos "gritinhos" das meninas face a um cérebro humano, talvez seja facilmente contrariado pelo enorme número de mulheres que tratam doentes acamados com tantos problemas e geralmente menos "enojadas" que muitos homens. Afinal por que é que há tantas enfermeiras?