domingo, 18 de março de 2012

Pseudo-reflexão sobre as taxas moderadoras



Recentemente, um familiar meu teve que se deslocar até às urgências de um hospital público. O motivo que o levou a deslocar-se até era mesmo urgente ( e não uma falsa urgência!) e depois de lá ter passado algum tempo pagou 27,55€ (20€ do episódio de urgência + 7,55€ referentes às análises que foram realizadas na mesma unidade hospitalar). A questão que me surgiu foi: 27,55€ por um cuidado de Saúde importante é muito ou é pouco dinheiro?

A Saúde é o bem mais precioso das nossas vidas e a sua inexistência determina o terminar das mesmas. É a Saúde que nos dá alguma qualidade de vida e a sua falta ou a sua presença em quantidades modestas provoca uma grande quebra na nossa qualidade de vida. Mas qual deve ser então o preço da Saúde? "Não tem preço" seria uma resposta unânime e imediata, mas proponho a reflexão sobre alguns aspetos.

Por um lado, enquanto nos poderemos queixar em pagar cerca de 30€ por uma consulta médica de urgência não temos tanta relutância em dar mais de 50€ por um bilhete para um concerto, em pagar 20€ ou 30€ por um bilhete para assistir a um jogo de futebol ou em desembolsar a mesma quantia numa refeição fora de casa para duas pessoas num restaurante de preços médios. Se não nos importamos de pagar valores elevados por coisas tão supérfluas como as anteriormente enumeradas, porque não pagar preços elevados pela Saúde que é um bem simplesmente imprescindível? Why not?
Será que a Saúde, por ser tão importante, deve ser a nossa despesa principal, assim como o é a habitação e a alimentação?

Ou, por outro lado, será que a Saúde, por ser algo tão básico e tão necessário deve ser algo universal pelos seus preços e ser o mais barato possível para ser acessível a todos os cidadãos?

O Serviço Nacional de Saúde apesar de ser alvo de muitas críticas (ideologicamente bem definidas, obviamente) é o garante do acesso universal à Saúde e apesar de ser caro (embora seja pago de forma maioritariamente indireta) permite que ninguém seja impedido de aceder aos serviços que disponibiliza e permite também que todos tenham direito a cuidados de Saúde dignos.

A questão é: será que a Saúde, por ser um dos bens mais importantes, deve ser aquele em que mais investimos ou, pelo contrário, deve ser o mais barato?

Eu não cheguei a conclusão nenhuma e foi esse o motivo que me levou a escrever esta reflexão, portanto, aguardo ansiosamente pelas vossas eventuais conclusões.

5 comentários:

Vitor Almodovar disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Inês Rosa disse...

Agora uma pseudo-reflexão minha...
Podemos pensar, realmente se eu gasto 30 euros num concerto ou a jantar fora (coisas supérfluas), não me posso queixar em pagar o mesmo preço por cuidados médicos imprescindíveis. No entanto, não nos podemos esquecer de algo bem mais importante... E quem não tem esses 30 euros nem para as tais coisas supérfluas? Será que vai ter esses 30 para despesas de saúde?
Vivemos num país onde cada vez mais a classe média está a extinguir e cada vez mais as tais coisas supérfluas rumam pelo mesmo caminho, extinção!
É importante pensarmos naqueles que não podem dispor de 30 euros (e muitas vezes mais) para algo que deve ser garantido, que deve ser primordial.

Ana Garcia disse...

A minha conclusão vai de encontro à linha de raciocínio da Inês, na medida em que o supérfluo apontado nesta reflexão não é de todo uma prática comum de entre os cidadãos.
Na minha perspectiva (e de certa forma felizmente), nós fazemos parte de uma classe média que embora muito prejudicada com esta crise do capitalismo, não sente ainda na pele as consequências reais de uma privação substancial que de utópica nao tem nada. Temos hoje uma fatia considerável da sociedade que deixou de ir ver um concerto, que deixou de usufrir de qualquer serviço de restauração ou hotelaria, e que só vê jogos de futebol através do pequeno écran (e quando os mesmos são transmitidos por um dos 4 canais portugueses). Esta é a mesma classe que não poderá suportar a permanência de um filho numa instituição de ensino superior sob pena de não poder ter uma alimentação digna ou pagar as (elevadíssimas) contas de electricidade.
Assim, considero criminosa esta política de taxas moderadoras, que embora preveja algumas isenções, é anedótica; deixa de parte pessoas reais com dificuldades que vão muito além das que o senhor Presidente da República aquando do pagamento das suas contas.

João Simas disse...

O nosso país é dos que se tem distinguido por uma melhoria nas taxas de mortalidade infantil (melhor do que muitos países mais ricos)ou no aumento substancial da esperança de vida. Não são medidas de um governo mas políticas que só dão resultado a longo prazo, no sentido positivo ou negativo. Nada está conquistado. Outra questão é para que servem os impostos?

Franjoso disse...

A minha critica também se baseia na "pseudo-reflexão" da Inês. Hoje em dia a maior parte ainda tem possibilidades de gastar 30 euros em concertos como nas unidades hospitalares, então e a outra parte da população? aquela percentagem de desempregados(ou não) que mal têm para sustentarem as suas necessidades básicas do quotidiano, como fazem? Hoje em dia, com esta situação crítica do país, muita gente já está a cortar nestas coisas(como o Manuel diz "supérfluas") e estão assim a dar muito mais prioridade às coisas mais importantes do dia-a-dia, como é o caso destas taxas moderadoras. Assim é muito importante pensarmos também naqueles que mesmo com cortes não conseguirão pagar estas (e outras)taxas moderadoras. Com base também na linha da critica de Ana Garcia, estas taxas são um absurdo na nossa situação(em que vivemos). Primeiro porque assim nem toda agente tem "possibilidades" de se dirigirem a uma unidade hospitalar; e segundo, o facto de usufruirmos ou nao das unidades hospitalares não se devia basear em custos mas sim na preocupação de continuarmos a melhorar ainda mais a taxa de mortalidade infantil(como refere o professor) e a qualidade de vida dos portugueses. Esta taxa moderadora é de facto absurda(esteja ou não o país numa situação crítica), a saúde é um bem que todos deveriam possuir e deveria assim ser um "sector" de oferta no nosso quotidiano.