terça-feira, 20 de março de 2012

"Da Vinci perdido..."

Como este não é um blog em que, obrigatoriamente temos de escrever sobre Política ou sobre Economia, resolvi escrever sobre uma notícia recente que me interessou bastante. Num mundo em que os temas principais são a crise, as dificuldades económicas, conflitos entre vários estados e a má gestão dos países, é para mim necessário procurar outros temas e outras áreas de pesquisa. Este meu texto é sim relacionado com História, Arte e Da Vinci. Este texto é baseado num artigo, publicado na National Geographic na edição de Março de 2012, que mostra o contributo que a Ciência pode dar à História e à Arte.




Em janeiro de 1998 apareceu num leilão da Christie's uma cara bonita anónima com autor desconhecido. Supostamente era uma obra alemã do séc. XIX. Foi comprada por uma nova-iorquina e vendida dez anos mais tarde a Peter Silverman, o homem que desconfiou que a obra não era o que diziam e que iniciou uma complexa investigação. Resolveu mostrar a obra a Martin Kemp, um especialista em Da Vinci professor de História de Arte na Universidade de Oxford. Esta obra é especial porque possui uma excelente utilização das cores, uma grande precisão nas linhas, a forma como os fios de cabelos foram pintados, a expressão que o rosto da rapariga transmite e o facto de mostrar traços de alguém que pinta com a mão esquerda (como o próprio Da Vinci). Para ser de Da Vinci tinha de ter sido pintado entre 1450 e 1519. É agora que entra o papel decisivo da Ciência... Conseguiram datar o velino (material em que tinha sido pintada a rapariga) e este era de 1440 a 1650. Analisando o vestuário e o cabelo da rapariga descobriu-se que pertencia à Corte de Milão, durante a década de 1490. Os investigadores (cientistas e historiadores) chegaram ao nome de Bianca Sforza - filha ilegítima do Duque de Milão, casou-se em 1946 com o comandante das tropas milanesas e patrono de Da Vinci. "La Bella Principessa", como lhe chamaram, teria 14 anos quando se casou morrendo pouco tempo depois. Deparam-se agora com uma questão: de onde apareceu este quadro? Martin Kemp recebeu uma dica de outro professor de História de Arte. Deveriam procurar na Biblioteca Nacional de Varsóvia (Polónia), no livro Sforziad - obra comemorativa do casamento de Bianca. O volume foi parar à Polónia quando um elemento da família Sforza se casou com alguém da realeza polaca. Nessa obra faltava efectivamente uma página que teria sido cortada. Volta a ser necessário o recurso à Ciência de modo a se provar que aquela pintura pertencia ao livro, o que se veio a confirmar. A autenticação de uma obra do génio Leonardo Da Vinci é muito complicada de se fazer devido ao valor que tem uma obra deste e até que se chegue a um consenso é necessário muito tempo.

2 comentários:

João Simas disse...

Ora este blogue é sobre política e na maior parte do texto a Beatriz falou sobre política: a política da época, as andanças do quadro que refletem as relações internacionais e a importância das ciências (Física, Química e História da Arte ...)na procura da verdade, o que é também uma opção de quem manda. A arte sempre esteve relacionada com a política, de várias formas, por exemplo mostrando quais são os ideais de uma época, isto é os ideais que a elite pretende veicular, fazendo com que essas ideias sejam assumidas pela maioria. A arte tem servido como propaganda do poder, prestigiando esse poder. Os temas, mas também as técnicas relacionam-se com as ideologias. Os regimes valorizam ou desvalorizam, inclusivamente alguns censuram ou queimam obras "degeneradas, outros simplesmente ignoram. Até o "simples" ato de conservar ou restaurar depende de escolhas. Veja-se as opções do poder (no passado ou atualmente) em relação ao património,e qual património, e se se investe ou não nas ciências e na cultura em geral.
Recentemente foi descoberta também outra obra de Leonardo da Vinci no Museu do Prado.

Beatriz Candeias disse...

Não podia estar mais de acordo consigo! Este artigo interessou-me de imediato mas fiquei com bastantes dúvidas se o haveria de reestruturar aqui ou não, tive medo que não se adequasse visto que ainda ninguém tinha resolvido falar de Arte nem dos trabalhos científicos que se desenvolvem à volta do património... Em relação ao que o professor disse sobre investir-se ou não na cultura e na Ciência, tenho uns dados bastante interessantes sobre o que se passava e o que se passa atualmente com algumas bolsas para investigação. Se tiver tempo vou tentar escrever um texto sobre isso para publicar no blog. também considero interessante.