quarta-feira, 14 de março de 2012

"MEMÓRIAS DE SALAZAR" Ditador vira marca de vinho


"Salazar vai ser marca registada para potenciar a economia do concelho que viu nascer o antigo Presidente do Conselho, Santa Comba Dão, e um dos primeiros produtos com esse cunho será o vinho "Memórias de Salazar".

António de Oliveira Salazar nasceu no Vimieiro, a 28 de abril de 1889, onde está também sepultado, mas a ideia de recorrer à "marca Salazar" para o desenvolvimento do concelho, como explicou à agência
"A nossa é sempre uma perspetiva objetiva e histórica, porque os juízos de valor não têm de ser feitos pela autarquia, têm de ser as pessoas, os historiadores, os investigadores [a fazê-los]. Nós temos apenas de demonstrar a nossa convicção de que o que estamos a fazer é útil para o concelho e para a região. E se temos um vinho `Memórias de Salazar" é porque sentimos que as pessoas procuram essa ligação quando nos visitam", disse o autarca.
O objetivo da autarquia -- que criou já a Associação de Desenvolvimento Local (ADL) de Santa Comba Dão - é "ligar um nome conhecido em todo o mundo aos produtos da terra", como é o caso do vinho, criar condições para historiadores e investigadores poderem estudar o Estado Novo e fornecer aos visitantes um espaço que lhes permita contactar com o passado de Oliveira Salazar na sua terra".
A ideia é dar agora um "novo fôlego" ao projeto, criar uma "marca Salazar" e, através da ADL, "procurar investidores que permitam o desenvolvimento integral da ideia, que passa pela recuperação da área urbana do Vimieiro ligada ao património que pertenceu a Salazar e espaço envolvente".
Toda a parte de recuperação patrimonial pode custar, segundo o autarca, dez milhões de euros, dinheiro esse que terá de vir da iniciativa privada, "mas também de entidades públicas" que tenham como missão o desenvolvimento local, sendo que este "é um dos 'projetos âncora' para o desenvolvimento da região Dão-Lafões"."

Fonte: Diário de Notícias

Fiquei impressionado com esta noticia que encontrei no DN online. Numa época de dificuldades e em que todos os portugueses se queixam da difícil vida que todos somos obrigados a viver, a autarquia de Santa Comba Dão viu na história uma oportunidade para o desenvolvimento do concelho e da região Dão-Lafões. Não se pode dizer que seja uma má ideia, muito pelo contrário...mas será que vai ter o efeito contrário ao esperado? Será que alguém terá orgulho em dizer que tem um "Memórias de Salazar" na garrafeira? Não importa se terá o número de vendas desejadas ou se alguém terá um orgulho particular em dizer que tem um garrafa destas na garrafeira. O que realmente importa é que no meio de tanto pessimismo ainda exista vontade por parte de instituições publicas como a autarquia de Santa Comba Dão ou mesmo de instituições privadas em promover o desenvolvimento económico aproveitando as potencialidades da região.

3 comentários:

Maria Margarida disse...

Não deixa de ser irónico que enquanto Portugal vivia em clima de Estado Novo, o setor primário possuía um carácter intervencionista, através de campanhas… e a esta altura é o emblema e a cara do Estado Novo a promover o concelho e região Dão-Lafões.


“E se temos um vinho `Memórias de Salazar´ é porque sentimos que as pessoas procuram essa ligação quando nos visitam".

Será?
Não acredito que alguém que dê mérito, tenha um carinho especial ou idolatre António Oliveira Salazar, vá procurar o seu bom nome numa… garrafa de vinho!

Entre D. Afonso Henriques, D. João II, Camões, ou até mesmo o Infante D. Henrique, foi Salazar o “maior português de sempre”, por isso, porque não um monumento? Certamente levaria, quem queria, a visitar o concelho e a promovê-lo.

Beatriz Candeias disse...

Salazar foi sem dúvida o salvador da economia portuguesa. Agora não podemos nunca esquecer que ele foi a cabeça do regime fascista que vigorou em Portugal durante mais de 40 anos! Não havia liberdade minha gente! Eu não podia estar a escrever o que escrevo agora! Aqueles que se atreviam a opor-se eram imediatamente calados. Sim senhora, Portugal recuperou da crise mas não deixou de ser um país atrasado economicamente, com pessoas a viver em condições péssimas de vida, com pessoas a morrerem numa guerra que muito provavelmente poderia ter sido evitada. Não entendo como é que anos e anos de opressão são esquecidos do dia para a noite e o vilão passa a ser o herói! Nós não vemos os alemães a elegerem Hitler como o melhor alemão de sempre. Nós não vemos os italianos a darem o nome de Mussolini a um vinho para promover uma Região. Sinceramente cada vez mais reconheço o papel que a História tem na vida das pessoas porque se as pessoas soubessem realmente o que se passou durante o Estado Novo acredito realmente que atitudes como esta nem seriam sequer pensadas...

João Simas disse...

"A cada um os seus heróis" ...
Uns proclamam Cristo, outros Churchil, Pablo Neruda, Che Guevara ... Na remota Santa Comba Dão há quem queira promover Salazar, para promover o turismo e o desenvolvimento. Ora se há coisas que Salazar desconfiava e tinha medo de se que "pervertesse" a "nação" rural e patriarcal portuguesa, era o turismo, com a vinda de possíveis "subversivos"que poriam em causa essa sociedade em que o progesso seria o fim dos bons costumes. Salazar tinha receio do desenvolvimento, sobretudo da indústria que traria agitadores e o fim da família e da religião, tal como ela a entendia. Ao que parece esta homenagem parece não ter em conta o homenageado.
E ..a nossa Constituição até condena a propaganda fascista.