quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Serão demasiados licenciados?

A mais recente afirmação de Angela Merkel, proferida na passada terça-feira, foi alvo de inúmeras críticas e comentários. 
Aquando da intervenção que estava a fazer na reunião com a Confederação das Associações Patronais Alemãs, onde realçava o valor do ensino vocacional, a Chanceler alemã afirmou que Portugal e Espanha possuem demasiados licenciados, desvalorizando assim o ensino vocacional. Claro que, face a todo o burburinho que foi despoletado aquando das palavras proferidas, apenas a parte dos ‘demasiados licenciados’ se proliferou por todas as redes sociais. Merkel, no entanto, afirmou que o facto de Portugal e Espanha considerarem o ensino universitário como essencial para um futuro profissional, coloca a formação vocacional em baixa consideração. Tendo em conta esta afirmação e analisando os dados fornecidos pela Eurostar (relativos a 2013), a percentagem média de licenciados, com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, na Europa, apresenta-se em 25,3%; em Portugal, situa-se nos 17,6%; na Alemanha em 25,1% e liderando a lista, a Irlanda detém 36,3%. Desta forma, é possível concluir que Portugal não se encontra perto do valor médio europeu, isto é, apesar do número de licenciados que possui, a sua percentagem ainda não se aproxima da percentagem média europeia, sendo necessário um aumento do número de licenciados, não possuindo ‘demasiados’. Por outro lado, analisando os valores percentuais da formação vocacional, a percentagem média europeia situa-se nos 50,3%; na Alemanha encontra-se nos 55% e, em Portugal, nos 42,4%. Observa-se, assim, que Portugal não se encontra dentro dos valores médios europeus e que a Alemanha demonstra uma grande valorização deste tipo de formação, possuindo uma percentagem superior à média. No entanto, apesar deste valor, a formação vocacional em Portugal tem sido alvo de um crescimento significativo, impulsionada, principalmente, pela Estratégia de Fomento Industrial para o Crescimento e o Emprego (2014-2020).

Com isto, concluo que as afirmações proferidas por chefes de governo e líderes políticos têm que ser, essencialmente, bem fundamentas e argumentadas, de modo a que não se propaguem erros de discurso por eles proferidos, e por muitos outros absorvidos. Merkel, nesta situação, gerou inúmeras críticas face à sua afirmação pois não teve em consideração, para além dos factos demonstrados em cima, a divergência de modos de ensino presentes em cada um dos países abordados. Por exemplo, enquanto Portugal aposta no ensino superior, a Alemanha, face à valorização do ensino vocacional, carência de profissionais formados no ensino superior, recorrendo à recruta de licenciados portugueses, em determinadas áreas. 

1 comentário:

João Simas disse...

A Alemanha está agora a investir mais no ensino superior. Será que a visão da senhora Merkl é uma visão europeia ou apenas alemã?