domingo, 23 de janeiro de 2011

Primeiras reacções

Acabei de ver há instantes através da televisão, as primeiras projecções dos resultados das eleições presidenciais de 2011. Em primeiro lugar, gostaria de exprimir os meus sentimentos quanto ao valor da abstenção (49%-54%). São números lamentáveis. Se metade da população portuguesa não vota, são cinco milhões apenas a votar e não o total de dez. Destes cinco milhões entre 52%-58% votam no Professor Cavaco Silva. Ou seja, cerca de 2.5 milhões de pessoas (um quarto da população total) foi suficiente para definir quem seria o Presidente da República. Aproveito até algumas palavras de Defensor Moura, para caracterizar o sucedido. Nestas eleições, como em outras anteriores, muitos, mas mesmos muitos portugueses fugiram às suas responsabilidades, fugiram ao dever de votar e esqueceram ou ignoraram as situações que o país enfrenta. Podem alegar que não concordam com o sistema, que não gostam dos candidatos, podem até dizer,(erradamente), que o Presidente da República é uma figura decorativa. Pois então que votem em branco, mas não deixem de votar, porque a abstenção de nada vale. Provo-o matematicamente, o Professor Cavaco Silva tem 52%-58% dos votos. Isto é, dos 5 milhões que foram votar, ele obtém cerca de metade. Imaginemos que a abstenção revertia a favor de outro candidato, qualquer que fosse, como haveria mais pessoas a votar, já a percentagem de Cavaco Silva descia.
Resumindo; aqueles que estão fartos do sistema, devem exercer o direito de voto, porque ao absterem-se, reforçam a percentagem de quem tem maior votação, há menos votos, a percentagem sobe, porque os 2.5 milhões de Cavaco Silva matêm-se.
Em segundo lugar, gostaria de criticar as tendências de voto mostradas neste dia. Todos criticamos, todos nos queixamos dos políticos que estão no parlamento, ou escondidos no interior dos partidos, queixamo-nos também da situação a que o país chegou. E quem vence as eleições?! Vence o rosto daqueles que nos fizeram chegar a esta situação. Vence Cavaco Silva, o homem que foi Primeiro Ministro com duas maiorias absolutas, e Presidente da República vencendo ambas as eleições à primeira volta. Ou seja, vence um dos homens que à mais tempo está no poder. E na segunda posição fica Manuel Alegre, o homem apoiado pelo partido que nos últimos quinze anos governou durante 13, o partido que tem de assumir as principais responsabilidades na condução do país ao buraco financeiro a que chegámos. Nestas eleições, o povo português poderia ter dado uma chicotada na cara dos partidos políticos, pois tinha dois candidatos independentes, um deles, Fernando Nobre com capacidade de assustar os outros candidatos, atinge apenas os 11%-16%. Defensor Moura, pior ainda, ficou pelos 1.7%.
Agora, não nos podemos queixar. Uns não votam, e os que votam dão a vitória sempre as mesmos. Na democracia, quem está no poder, pode sempre defender-se, dizendo que foi eleito, que foi escolhido pelo povo. Assim sucedeu, voltam a vencer aqueles que nos trouxeram a esta situação, e nós escolhemo-los para tentar dar a volta. Comento isto, citando um provérbio inglês: You fool me once, shame on you. You fool me twice, shame on me.

3 comentários:

Carolina disse...

Realmente a percentagem de abstenções é lamentável. Como já tinha referido num texto meu, será que este número elevado de abstenção se deverá ao facto da população não se interessar por política, não ter conhecimento da importância desta ou será que não se querem dar ao trabalho de sair de casa para irem votar? Tantos anos, como a História pode verificar, em que o direito ao voto foi duramente lutado para ser conseguido e, agora que a população o tem, não o utiliza. Mais uma vez é lamentável.
Em relação ao nosso Presidente da República ter sido re-eleito digo, na minha opinião, que tal facto sucedeu pois os portugueses não querem de facto uma mudança drástica na política, pelo que votam nos mesmos.
Mais triste que isto é mesmo o desconhecimento e o desinteresse da população na política do nosso país, daí talvez a alta percentagem de abstenção. E não venham dizer que agora a culpa é dos cartões de cidadão, cujo sistema de mensagens sms bloqueou!

Maria João disse...

É de facto miserável que a abstenção tenha essa dimensão. Mas não quero deixar de salientar a gravidade que é verificarem-se problemas como o bloqueio do portal do cidadão e do serviço SMS 3838 no dia das eleições. Vários portugueses viram-se impedidos de votar devido a falhas técnicas. É de lamentar que o Estado tenha dinheiro para pagar motoristas privados que sirvam o gabinete do Exmo. Sr. Primeiro Ministro, e não tenha o mesmo para pagar a indivíduos que tenham a função de prever certas falhas e assim evitá-las a tempo, informando os cidadãos, para que não existam congestionamentos que impeçam estes de exercer os seus direitos.

Deplorável.

Pipa Sobral disse...

Concordo plenamente contigo António, acho rídiculo que as pessoas critiquem a política do país, mas quando chega a hora de votar, não exerçam esse direito!! Pelo menos que votem em branco...