quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Banqueiro dos Pobres" preciso em Portugal!




O Grameen Bank, o Banco dos Pobres, surgiu em Bangladesh, uma das regiões mais miseráveis do mundo depois de Muhammad Yunus, um professor de Economia, percorrer o país e se deparar com a pobreza e as condições miseráveis em que viviam, ou melhor sobreviviam muitas pessoas.
Na tentativa de obter um crédito de apoio para os pobres, percorreu durante anos os bancos públicos do seu país mas não conseguiu nenhuma resposta positiva acabando por criar a sua própria instituição, onde se concedia aos mais pobres dos pobres microcréditos.
O objectivo principal do "Banco dos Pobres" era, e é, o de estender os serviços de crédito aos mais pobres, dar oportunidades de trabalho e renda aos desprovidos e desenvolver uma forte noção de cidadania, confiança e de auto-estima na população carente:
"Mais do que uma proposta de conceder crédito através de um pequeno empréstimo, o Banco dos Pobres visa, também, romper com um ciclo vicioso do trabalho que estimula a permanência dos padrões de escravidão, do congelamento de uma situação permanente de miserabilidade e da ausência de serviços públicos mínimos para a sobrevivência do ser humano como habitação, saúde, educação, transporte, etc. "
O sucesso foi tão grande que logo se expandiu para o mundo inteiro, mostrando-se não só uma operação viável do ponto de vista financeiro como um forte aliado no combate à pobreza. O "Banco dos Pobres" melhorou em todos os sentidos a qualidade de vida das pessoas. Muhammad Yunus aponta para um período, entre cinco e 15 anos, como o tempo necessário para uma família que beneficia do microcrédito ultrapassar o limiar da pobreza.
"Os pobres estão acostumados a conviver com crises. São pessoas simples, mas altamente criativas. Além disso, o dinheiro não é usado em infra-estruturas complexas, mas em objectivos simples como, por exemplo, a compra de uma máquina de costura ou de tecido para fazer confecções. Concedemos pequenos créditos a pessoas que usam esses recursos para conseguir uma fonte de rendimento. O risco é pequeno porque cada pessoa recebe um crédito muitas vezes inferior a 100 dólares (75 euros)"

Actualmente, Portugal encontra-se mergulhado numa intensa crise. As pessoas voltam a explorar a terra e o mar, começam a racionar todos os seus recursos e a diminuir ao máximo o seu consumo, muitas delas vivem já no limiar da pobreza, mas até onde vai esse limiar? É preciso começarem a morrer pessoas na rua para se tomarem providências? Para sairmos desta situação não precisávamos apenas de um, mas de muitos "Banqueiros dos pobres". A verdade é que naquele espaço e naquele tempo esta foi uma ideia que vingou e que deu resultado mas será que se podia aplicar este método no nosso país e verificar um alívio da crise? Em Portugal, os empréstimos não são cedidos a toda e qualquer pessoa. Estas são sujeitas a uma análise pormenorizada de todas as suas economias, verificando-se assim, um descrédito e uma falta de confiança na população, que Yunus não teve. Os empréstimos pedidos aos bancos são quantias elevadíssimas e que muitas vezes, não são utilizadas em investimentos lucrativos e que permitem o reembolso dessas quantias. Estes empréstimos, são cedidos apenas ás pessoas que apresentam uma garantia em como podem pagar, ou seja a classe alta, uma vez que a crise que afecta o nosso país neste momento está a fazer “desaparecer” a classe média que, há uns anos atrás era constituída por pessoas que conseguiam levar uma vida desafogada. Assim, estes empréstimos não vão beneficiar em nada as outras classes e contribuir para a evolução e desenvolvimento da economia porque “os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres”, gerando-se assim, um desequilíbrio de classes ainda maior. Por outro lado, os Bancos de Portugal não podem emprestar dinheiro a toda a gente que, numa roda-viva lhes recorre neste momento, porque, não têm dinheiro e estão cada vez mais próximos de uma banca rota.
A diferença é o facto de que os empréstimos cedidos pelo “Banco dos Pobres” tal como o próprio nome indica são microcréditos, ou seja são quantias mesmo muito pequeninas, mas que servem para uma pessoa montar um negócio e, com isso conseguir lucro. No nosso país seria completamente impensável ir ao banco pedir um empréstimo de 75€ para montar um negócio, pois os Portugueses são muito ambiciosos, querem tudo para além das suas posses e começar logo em grande e, neste caso isso não é possível.
O livro escrito por Yunus devia ser, pelo menos neste momento, de leitura obrigatória no Parlamento, podia ser que abrisse muitas mentes. Podia ser que o excelentíssimo ministro das finanças se disponibilizasse a andar pelas ruas e a conviver com a realidade da crise (pois acho que para muitos políticos esta questão da crise ainda parece uma realidade muito distante). Podia ser até que ao conviver com esta realidade, abdicasse de metade (ou mais) do seu salário e o utilizasse em prol do seu povo. Podia ser...

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