Fonte: http://aeiou.expresso.pt/passos-mercado-da-lingua-portuguesa-pode-ser-alternativa-para-professores=f695096
Primeiro, foi a vez do Secretário de Estado da Juventude aconselhar aos jovens desempregados e precários a sair da sua zona de conforto e a procurarem um futuro lá fora. Agora, foi a vez do próprio Primeiro Ministro, Pedro Passos Coelho, vir a público fazer declarações semelhantes, mesmo apesar de todas as críticas que o seu Secretário de Estado sofreu, incluindo alguns vindos das mais variadas personalidades do panorama nacional, como por exemplo, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que não deixa de ser um dos militantes mais destacados do principal partido do Governo.
Neste caso em particular, Pedro Passos Coelho referia-se apenas aos professores contratados a prazo, que fruto da reforma do ensino que está a ser posta em prática, irão inevitalmente ser despedidos, mais cedo ou mais tarde, aumentando assim as filas que existem todas as manhãs às portas dos Centros de Emprego do I.E.F.P..
Com estas declarações, Passos Coelho não teria, certamente, uma má intenção. Pretenderia apenas aconselhar as centenas ou milhares de professores desempregados, que, nos próximos anos não terão emprego nas escolas públicas portuguesas, fruto de alguns erros de gestão deste e dos últimos governos. Talvez não tenha passado de uma declaração ingénua em que o PM revelou o que faria se estivesse numa situação pessoal semelhante.
Contudo, Passos Coelho poderia ter algum "coelho" na cartola: se os professores acedessem realmente ao seu conselho, por um lado reduziria os números do desemprego, por outro lado, pouparia uns bons trocos ao pagar menos subsídios de desemprego e esperaria ainda aumentar as remessas vindas do estrangeiro. Conseguiria assim, atingir aquele desígnio nacional, impingido por uma certa senhora, que é o Défice 0.
Entre estas possíveis opções, sinto-me tentado a acreditar na primeira, i. e, creio que foi mais uma afirmação imponderada do PM. Em qualquer dos casos, as afirmações nunca deixarão de tresandar a um gritante paternalismo, em que o detentor do poder executivo, aconselha a mulheres e homens qualificadíssimos, o que devem ou não devem fazer, como se fossem desprovidos de raciocínio.
Se a memória me não falha, tal espécie de afirmação não era feita desde o tempo do outro senhor, não no que diz respeito ao conteúdo, mas sim no que diz respeito à forma, ou seja, no que diz respeito ao tom paternalista e superprotetor.
É óbvio que o melhor que estes professores têm a fazer é mesmo emigrar, mas será que é normal ouvir o Primeiro Ministro a dizê-lo?
Mesmo tendo sido uma afirmação irrefletida, é, ao mesmo tempo, uma afirmação tristíssima, uma vez que cidadãos nacionais são convidados a sair por um dos mais altos representantes do próprio país, o que significa, na prática que o país já não tem "espaço" para pessoas do mesmo sangue, da mesma língua e da mesma Pátria, o que nos permite ver quão negra é a situação. Se o País já não quer os seus próprios cidadãos e até os manda embora, é porque falhámos enquanto Nação, enquanto cidadãos e enquanto País.
Afinal, para que serviu tanto investimento na formação destas pessoas?
Para que servem tantos impostos?
E agora, os países que tenham a sorte de receber estes professores vão ficar com profissionais qualificadíssimos que não lhes custaram um cêntimo a formar?
Por que motivo construímos Universidades?
Esta sentimento de desprezo vai, inevitavelmente, ser um dos responsáveis pela maior vaga de imigração do século e também pela maior fuga de cérebros de sempre, lembrando outros períodos negros da nossa História em que milhões de Portugueses fugiram de Portugal a pé, com malas de cartão, procurando condições de vida um pouquinho menos miseráveis do que aquelas que tinham no seu país.
Se o país não precisa dos cidadãos e convida-os a emigrar, porque é que não emigramos todos e fechamos o país por uns tempos e esperamos que ele se endireite sozinho?
Agora, mais do que nunca, penso que chegou a hora de refletirmos um pouco sobre aquilo que queremos ser enquanto pessoas e enquanto povo.
Votos de umas Boas Férias, de um Feliz Natal e de um Próspero 2012, na medida do possível.
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