terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"Sudão: mulher foi chicoteada no meio da rua."

O Sudão, país no qual me vou focar neste texto, é um país africano, predominantemente muçulmano: 75% da população está ligada ao Islão.

O Islamismo é uma religião monoteísta que se baseia nos ensinamentos religiosos do Alcorão, que é tomado como a palavra literal de Deus, revelada ao profeta Maomé. Deus é visto como o criador a quem se deve louvar; cada capítulo do Alcorão (com a excepção de um) começa com a frase "Em nome de Deus, o beneficente, o misericordioso". Deus é adorado excessivamente, mas é algo que se deve respeitar, pois é uma crença. O islamismo defende ainda a predestinação, pois Deus criou o mundo e as criou as pessoas que, assim sendo, estão determinadas por este.

Existem ainda os “cinco pilares” do islão. Recitar e aceitar a crença (chahada), orar cinco vezes ao longo do dia (salá), pagar esmola (zakat), praticar jejum no Ramadão, nono mês do calendário islâmico, (saum) e fazer, pelo menos uma vez na vida, a peregrinação a Meca (haj).

São aspectos da religião, e penso que devem ser respeitados, visto que nenhum ofende a integridade como ser humano.

Infelizmente, isso não acontece noutras situações. A religião influencia altamente as leis do país, criando ideias totalmente inúteis através de interpretações lamentáveis da religião. As leis de países islâmicos são feitas com base na sua religião, o que além de estabelecer leis absurdas não cede a liberdade de escolher uma outra religião, sendo impossível, pois a lei do país obriga ao seguimento daquela… Ao falar de leis absurdas consigo até pôr de lado as que implementam manifestações de cultura pouco proveitosas. Mas refiro-me principalmente àquelas leis que afectam directamente o ser humano, mais especificamente a Mulher. A Mulher tem um estatuto especial, no qual é estritamente sublinhado que esta é inferior ao homem. A Mulher não pode exercer cargos de grande importância, sendo a sua tarefa fundamental tomar conta da casa e da família; é, ainda, normalmente mal vista caso não corresponda a um ser digno, "respeitável" e fiel.

Eu pergunto-me como será possível que a maioria da população de um país não consiga reconhecer a maldade e a injúria que é aos direitos humanos tratar a Mulher a este nível.

E o pior é que não ficamos por aqui. Há mesmo leis que implementam a prática da violência contra a Mulher, vista como um ser fraco, vista de uma maneira tão inferior, tão ignorante, que não tem sequer oportunidade de se defender contra aquilo de que é acusada. A lei islâmica Sharia institui que “uma mulher considerada adúltera deve ser enterrada até ao pescoço (ou axilas) e apedrejada até à morte”.

Perante situações como estas, eu pergunto-me como é que é possível existirem interpretações tão deploráveis das religiões. Como é que de uma crença numa entidade divina que supostamente defende a paz, pode surgir o apedrejar de um ser humano?

Vejamos o exemplo da notícia que me levou a escrever este texto. Uma mulher foi chicoteada no Sudão, no meio da rua, rodeada por vários homens que assistiam sem terem sequer um reflexo de compaixão. Tal aconteceu APENAS porque a mulher em causa, debaixo das suas vestes, vestia calças. Aceito e compreendo se a religião defende o uso de vestuário específico. Mas agredir alguém por o fazer de uma maneira errada, ou até por não o fazer, no meio da rua, sendo isso LEGAL e compreensível? Lamento, mas isto não é religião, isto não pode ser cultura, é maldade.

Deixo-vos a hiperligação da notícia, que contém um vídeo, pois alguém filmou a situação e pôs na Internet. Repare-se que no vídeo alguém diz “ela é uma rapariga má, deixem as pessoas vê-la a ser agredida”. Chamo ainda a atenção para o facto dos homens que chicoteiam a mulher serem agentes policiais...

(Pode ferir a sensibilidade de pessoas mais frágeis.)

Sempre que posso e consigo tento aplicar o relativismo cultural, mas em situações como estas, vejo-me incapaz de evitar o etnocentrismo. Não é aceitável, há o bem, e há o mal. E isso não pode ser cultural, a violência apenas não pode ser entendida como uma prática do bem. É triste existirem religiões que o fundamentem, e muito mais triste é existirem Estados cujos governos o implementem nas suas leis.

2 comentários:

João Simas disse...

O problema talvez não seja das religiões mas das sociedades, de grupos ou de indivíduos. Tanto nos textos sagrados do Alcorão como na Bíblia poderemos encontrar leis que oprimem as pessoas, como o contrário. Há muçulmanos terroristas como pacifistas, como por exemplo os seguidores do príncipe Aga Khan, tal como entre os cristãos também tem havido grandes perseguidores, como outros que lutam pelos direitos.

Maria João disse...

sem dúvida, o problema é em maior parte das sociedades pois são essas que fazem as suas interpretações do que é escrito nos textos sagrados, por vezes lamentáveis, como referi.