O intento era demonstrar que, sem muito esforço, esses mesmos instrumentos que eram usados para a destruição da religião podem ser empregues com igual sucesso para a subversão do governo; e que esses argumentos capciosos podem ser usados contra essas coisas que mesmo quem duvide de tudo o resto nunca permitirá pôr em dúvida. Existe uma observação que, segundo creio, Isócrates faz numa das suas orações contra os sofistas, de acordo com a qual é muito mais fácil manter uma causa errada e sustentar opiniões paradoxais para a satisfação de um auditório vulgar do que estabelecer uma verdade incerta mediante argumentos sólidos e conclusivos. Quando os homens julgam que algo pode ser dito em defesa daquilo que, por princípio, pensam ser totalmente indefensável, passam a duvidar até da própria razão; abandonam-se a uma espécie de admiração complacente; seguem o orador, encantados e fascinados por encontrar uma tão fértil colheita de raciocínios onde tudo parecia estéril e pouco prometedor. Este é o fictício terreno da filosofia. E muito frequentemente acontece que essas agradáveis impressões da imaginação subsistem e produzem os seus efeitos, mesmo depois do entendimento ter dado conta da sua natureza imaginária. Existe uma espécie de brilho nas falsidades engenhosas que deslumbra a imaginação, mas que não pertence nem se torna na aparência sóbria da verdade. […]
Burke. (2008). Defesa da sociedade natural. Lisboa: Círculo de Leitores.
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