sábado, 21 de abril de 2012

A França e o futuro da Europa

A França é um dos maiores e mais influentes países da Europa. Possuidora de uma cultura riquíssima, de um território vasto - repleto de locais que povoam o nosso imaginário -  e de uma sociedade civil grande, poderosa, culta e interventiva, a França tornou-se um dos motores da Europa, não só a nível económico e financeiro, mas também a nível cultural e civilizacional. Todas estas características transformam a França num país progressista e vanguardista (já a Revolução Francesa foi impulsionadora das revoluções liberais em toda a Europa), democraticamente estável e que foi num passado não muito distante, um sinónimo de liberdade (quando a Península Ibérica vivia assolada por ditaduras).
Importa também referir que a França, sendo, por excelência, o destino da nossa emigração, as histórias, as estórias e os costumes trazidos pelos nossos emigrantes fazem com que a cultura francesa tenha sido e ainda seja uma das culturas que mais influenciam Portugal.

Portanto, creio que é interessante prestarmos alguma atenção às eleições presidenciais que se vão realizar.

A disputar o gabinete no Eliseu existem 4 candidatos principais: Marine Le Pen, Nicolas Sarkozy, François Hollande e Jean-Luc Mélanchon (da Direita para a Esquerda).

Marine Le Pen representa a Frente Nacional, o partido nacionalista de extrema-direita. Filho do anterior presidente do partido, o eterno Sr. Le Pen, tem um discurso exclusivamente baseado nos temas da imigração e conquista alguns votos do eleitorado de Direita, descontente com Sarkozy, e alguns da classe trabalhadora. Ao longo dos últimos anos do mandato de Sarkozy, tem aumentado a sua popularidade exponencialmente.

Sarkozy, por sua vez, é o candidato da UMP (União para um Movimento Popular). Presidente durante os últimos sete anos, poderá conseguir alguma recompensa pelo extremar do seu discurso e pelo facto de a França se encontrar numa situação social e económica bastante mais confortável do que as vizinhas Espanha e Itália. Além disso, invade constantemente os assuntos de campanha de Marine Le Pen, tentando conquistar, com um discurso um tanto populista, algumas das intenções de voto que anteriormente pertenciam à candidata nacionalista. Mas, apesar de ser um político capaz e um candidato ativo e extrovertido, é o presidente menos popular de sempre e muitas pessoas já estão, de certa forma, saturadas do seu perfil.

Seguidamente surge Hollande, François de seu nome. É ex-marido de Segolène Royal (a candidata do PSF nas presidenciais anteriores) e substituto de Dominique Strauss-Kahn que, antes dos escândalos, era o anterior candidato do PSF. Hollande é, em primeiro lugar, a alternativa séria. Mantendo um certo low-profile, o seu carisma é mínimo quando comparado com o de Sarkozy. O seu discurso centra-se numa alteração do paradigma da política da União Europeia, uma espécie de refundação da Europa e a restauração dos valores que estiveram na base da criação da U.E., o que para Portugal até seria benéfico, a meu ver. Com uma campanha longa mas sem acidentes de percurso é, para já, o vencedor na grande maioria das centenas de sondagens realizadas. Resta saber se se confirmará como vencedor das eleições... Tudo indica que sim, apesar da recente subida de Sarkozy, que aproveitou para capitalizar alguns votos, nomeadamente, votos de cidadãos indecisos.

Por fim, surge Jean-Luc Mélanchon - o candidato-sensação. Anterior militante do PSF, saiu em 2008 para formar o Partido de Esquerda. Este dissidente do PSF conseguiu o apoio do Partido Comunista Francês e as suas intenções de voto, que eram anteriormente à voltados 7%, duplicaram e agora são cerca de 15%. Uma das medidas que defende é um aumento considerável do salário mínimo, como forma de dinamização do mercado interno. Os seus votos poderão ser muito úteis a François Hollande numa eventual, mas muito provável, segunda volta.

Amanhã os franceses decidirão ou, pelo menos começarão a decidir, quem querem que seja o seu presidente nos próximos 7 (?) anos.


1 comentário:

João Simas disse...

Os resultados das eleições em França poderão ter muitas consequências na Europa. Estão em causa vários problemas que transcendem este país: a forma de abordar a imigração, o euro, a concepção de estado social, as estratégias face à crise financeira, a solidariedade (ou não) europeia, os nacionalismos ...