quinta-feira, 10 de maio de 2012

Mudança?

No passado Domingo, realizaram-se eleições legislativas na Grécia, cujos resultados são, sem dúvida, muito interessantes.
Em primeiro lugar, é notória a falta de consenso que existe no povo grego: o partido mais votado, a Nova Democracia (ND), obteve 18,8% dos votos, uma situação pouco usual. Por outro lado, os partidos com maior expressão eleitoral, que defendem a austeridade imposta pela troika, sofreram grandes descidas ao nível dos votos, resultado do enorme descontentamento do povo grego face às medidas (cortes nos salários, nas pensões, etc...) aplicadas pelo governo. Como consequência, esses partidos (ND e PASOK) não possuem maioria no parlamento, mesmo criando uma coligação; têm 149 deputados dos 300 que constituem o parlamento grego.
Para aumentar a instabilidade política, nenhum dos restantes partidos se mostrou disponível para se aliar à possível coligação ND/PASOK. Assim, a ND desistiu de formar governo, e devolveu o mandato ao Presidente da República grego, pois, muito provavelmente, não conseguiria aprovar qualquer medida no parlamento.
Devido a esta desistência, a obrigação de formar governo passa, segundo a legislação grega, ao segundo partido mais votado, o SYRIZA, de esquerda. Este partido é totalmente contra a austeridade, e pretende conferir um novo rumo às políticas praticadas na Grécia. No entanto, também não conseguiu formar governo, pela impossibilidade de criar uma maioria de esquerda.

Na minha opinião, esta situação de instabilidade só se irá resolver com a realização de novas eleições. Creio que a tendência natural para os resultados dessas hipotéticas eleições será um aumento do número de votos quer na extrema-esquerda, quer na extrema-direita. Considero importante salientar o facto de que é perfeitamente possível que o SYRIZA se torne a força política mais votada na Grécia. Nesse caso, poderá existir a possibilidade de formar uma maioria de esquerda, pois, na Grécia, o partido mais votado tem direito a um «bónus» de 50 deputados (ironicamente, esta medida tem como objetivo evitar instabilidade política).
Se isso acontecer, serão inevitáveis grandes mudanças na Grécia. Será interessante ver até que ponto as políticas de esquerda conseguirão inverter a situação negativa que a Grécia vive, já que as políticas até agora aplicadas não estão a funcionar. Será que essa possível mudança dará resultado? Isso servirá de exemplo a muitos países, incluindo Portugal. Com base na Grécia, os portugueses poderão alterar as escolhas dos seus representantes, trazendo mudança também para o nosso país.

2 comentários:

joao sabino disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
joao sabino disse...

O resultado das eleições na Grécia, tal como nas presidenciais francesas, foi a «derrota das políticas de austeridade excessiva», ao que parece os que perderam as eleições foram aqueles que foram obrigados a executar essa política de austeridade excessiva imposta pela Alemanha e pela França.
Nenhum partido foi capaz de obter maioria absoluta do Parlamento para indicar o próximo-ministro do país. Nem mesmo uma colisão entre os dois partidos tradicionais e pró-acordo de resgate é suficiente para que um governante seja nomeado. Os cidadãos foram às urnas magoados e desiludidos. Queriam mostrar ao Pasok, socialista, e ao Nova Democracia, conservador, seu descontentamento com os caminhos do país. Os dois partidos governam a Grécia desde 1974, após a redemocratização.
Com isso, o voto ficou mais fragmentado. Em 2009, cinco partidos entraram no Parlamento. Agora, serão sete – e três deles pela primeira vez. Dois são de direita, o Gregos Independentes, dissidência do Nova Democracia, e o perigoso Aurora Dourada, claramente neonazista e com 21 representantes no Parlamento. O terceiro novato é o Esquerda Democrática, que, apesar de pequeno, pode ser o fiel da balança. Embora de esquerda, é pró-Europa. Desse modo, pode ser cortejado pelos partidos tradicionais, que costuraram o acordo com Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional para resgatar o país neste ano.
O problema: com a votação expressiva do Syriza (Coalizão de Esquerda Radical), o segundo partido mais votado e claramente contrário ao acordo com os credores, não seria uma jogada inteligente da Esquerda Democrática o alinhamento com legendas mais ao centro, pois perderiam o apoio conquistado nas urnas. Ainda que se una ao Syriza, são incapazes de governar, pois o Partido Comunista recusa uma coalizão.
A situação na Grécia fica cada dia mais complicada, e os mercados, que tinham se acalmado, já voltam a especular sobre a saída do país da zona do euro. O que virá das urnas em junho?