Para aqueles que não me conhecem, sou ex-aluno da Escola Secundária de Severim de Faria, e pertenci à turma de 2010/2011 de Ciência Política. Após um longo afastamento das publicações, e agradecendo ao professor João Simas a oportunidade de voltar a publicar, venho contar-vos uma experiência diferente.
Actualmente estou a estudar Economia na NOVA SBE, e dado estar a residir em Lisboa, tive a felicidade de assistir à cerimónia de entrega do triplo grau de Doutor Honoris Causa a Paul Krugman, prémio Nobel da Economia em 2008, e um dos mais conhecidos autores de livros sobre Economia, mais especificamente da área da Macroeconomia. Após esta cerimónia, Krugman, como é conhecido, deu uma entrevista à RTPN ainda no dia de ontem, a qual aconselho a visualização, e que juntamente com a cerimónia me incitou a escrever este texto.
Para quem não sabe, este economista de reputação de topo mundial, cronista no jornal Financial Times, defende uma doutrina chamada "Keynesiana" de John Keynes, ou seja defende uma intervenção parcial do Estado na economia. Krugman é, portanto, bastante aplaudido pela Esquerda (não radical) em todo o mundo.
Independentemente da minha concordância ou não com esta doutrina, as diversas intervenções de Krugman durante a cerimónia e na entrevista, digamos que, me abriram horizontes àquilo que eu pensava sobre o futuro de Portugal, sabendo que é muito imprevisível.
Julgo ser do conhecimento geral que a "saúda" da nossa economia é preocupante. Alguns pontos a referir: Dívida pública à volta dos 100% do PIB. Défice orçamental à volta dos 8% PIB. Taxa de Desemprego à volta dos 13%.
Então comecemos por explicar a situação que estes indicadores nos revelam. Durante os últimos anos, o Estado tem vindo a pedir empréstimos a Bancos para conseguir proporcionar os serviços que lhe competem, como educação, saúde, segurança, etc. O chamado Estado- providência, tem sido mantido à custa do endividamento das contas públicas. Não estou a dizer que foi o Estado-Social que causou o buraco financeiro português, o próprio Krugman, avisa que não foi, antes as negociatas que o Estados fez em seu desproveito. Mas a verdade é que neste momento apenas vamos a um hospital e somos tratados (independentemente das nossas condições financeiras) porque há entidades privadas e públicas que emprestam dinheiro ao Estado. E esse dinheiro, forma uma dívida, que tem vindo a ser acumulada, acumulada, até que chegou a um ponto em que se tornou, colossal. Para piorar a situação, temos um défice orçamental à volta dos 8% do PIB, (limite de Maastricht é de 3% se não estou em erro). Isto significa que o Estado está a gastar mais do que aquilo que pode, e seja no que for, terá que fazer cortes, para reduzir as despesas, e aumentar impostos para aumentar receitas. Por último, temos a taxa de desemprego mais elevada da nossa história.
Como se resolve isto? Até ante-ontem, pensava que a austeridade, aliada à legislação laboral que visa reduzir os custos do trabalho para tornar a nossa economia mais competitiva permitiria por um lado, reduzir o défice das contas públicas, e por outro fazer crescer o PIB e as exportações, e assim diluir o peso da dívida pública. Acontece que, se a dívida corresponde a 100% daquilo que produzimos, então tudo aquilo que estamos a produzir (em termos monetários) servirá para pagar a dívida. Mas acontece que não podemos ficar sem comer nem sem casa, nem sem tomar banho durante um ano, portanto, a dívida, vai-se pagando, devagar, devagarinho, mas quem nos emprestou o dinheiro, ao ver a nossa dificuldade em pagar, tenta recuperar o dinheiro através dos juros elevados que cobra. Resumindo ficamos com uma dívida maior, e mais difícil de pagar. O défice público, esse irá "facilmente" ser corrigido pela austeridade. Portanto sobra-nos a dívida galopante, e o desemprego. Porque é o desemprego preocupante? Por todas as razões pessoas que afectam cada família, isso em primeiro lugar, e segundo, porque um país com elevado nível de desemprego é um país com elevado nível de descontentamento, e isso em nada ajuda a democracia, porque quem está sem emprego precisa de uma mudança radical, torna-se um alvo perfeito para os grupos radicais. Porque um desempregado sente-se excluído, sente que a sociedade não tem lugar para ele e que não lhe irá dar uma vida digna (dinheiro, entenda-se).
A solução? Krugman disse: se não estivéssemos no Euro, bastava desvalorizar a nossa moeda, pagaríamos o preço não muito suave disso, mas tal como a Islândia fez aumentaríamos a nossa competitividade em 25% do dia para à noite. Como não podemos fazer isso, a solução passaria por dar incentivos fiscais para atrair capitais estrangeiros para Portugal. Estamos na União Europeia, não podemos ir muito longe nessa matéria como fez a Irlanda à uns anos a trás. Resta-nos atrair capital estrangeiro pela via mais desonrosa, mais inglória, e geradora de desigualdade social. Desvalorização salarial. Mais 20 a 30%, diz Krugman (de esquerda), e isto não é mesmo nada bom de se ouvir. E não é mesmo nada bom porque o actual Governo diz que não precisa de mais dinheiro, nem de mais tempo, e isto implica, pensava eu, "vai haver mais austeridade em 2013", Passos Coelho diz que não. Então afinal têm a fórmula mágica que Krugman não conseguiu ver? Ou será que alguém convenceu Angela Merkel a aumentar os salários na Alemanha? (isto seria semelhante a reduzir os nossos, pois iria tornar-nos mais competitivos em termos de custos face aos alemães, mais do que já somos, obviamente.) ... Alguém não está a dizer tudo o que sabe... Porque fórmulas mágicas não existem.
PS: A gasolina bateu hoje um novo recorde! 1,70€/litro.
António Martins