domingo, 1 de maio de 2011

Desmascarar a mentira

Acabei, à pouco, de ouvir o comentário semanal do Professor Marcelo Rebelo de Sousa na TVI, e prestei bastante atenção às suas palavras e ideias; pelo que houve uma que realmente surgiu como importante divulgar neste blog, e a esta turma de Ciência Política.
Durante cerca deste último mês e meio, alguns membros do Governo, e nomeadamente o nosso Primeiro-ministro têm pregado àqueles que os ouvem, uma mentira suja que lhes permite desculpar-se da situação actual em que se encontra o nosso país.
O discurso que ouvimos quase todos os dias, resume-se mais ou menos no seguinte:
Toda a crise que o país actualmente enfrenta é culpa do sistema económico internacional, o PEC 4 era a solução final para pôr fim aos problemas, e para Portugal sair da crise, o Governo tinha tudo sob controlo e muito bem planeado, e foi por culpa do principal partido da oposição (PSD), que ao reprovar na Assembleia da República o PEC, que originou o afundamento profundo do país, e que é por culpa dos outros que aqui temos o FMI.
Bem, não foi preciso ouvir o professor para facilmente apurar a mentira presente neste discurso, mas de facto ajudou a clarificar alguns pontos. Quase toda a natureza desta argumentação é falaciosa, e pretendo desmascarar ponto por ponto todos os argumentos.
Primeiro: A razão principal para a qual Portugal estar a atravessar esta dolorosa situação não é somente, e a meu ver nem é principalmente, por culpa da grave crise económica e financeira de 2008. Sim, é verdade já lá vão 3 anos desde o início da crise, e ao passo que outros países, tal como nós, foram atingidos, mas já levantaram a cabeça, e iniciaram a sua recuperação, aqui o cenário é outro, porque temos um Estado falido. Tal fenómeno; a falência do Estado, só se pode dever a erros de governação, e a erros na gestão das contas públicas. Quando se estuda economia, uma das primeiras coisas que se aprende é que em momentos de crise, o Estado deve impulsionar a economia do país, reduzindo impostos, e aumentando salários, mas tal só é plausível quando as contas do próprio Estado estão em ordem, e existe capacidade financeira para o fazer. No nosso caso, graças à má gestão dos recursos financeiros do Estado, somos forçados a fazer o oposto, aumentar impostos e reduzir salários e pensões. Portanto não se desculpem com a crise, porque a crise veio apenas mostrar aquilo que errado sucedia com as contas públicas.
Segundo: O PEC 4 não era a solução final para a crise interna, porque não havia solução. Tivemos primeiro o PEC 1, o PEC 2, o PEC 3, o Orçamento de Estado de 2011, e agora teríamos o PEC 4. Tudo isto, não era mais do que adiamentos à entrada do FMI em Portugal. Era compreensível que a maioria das pessoas não soubesse se a Troika iria ou não entrar no nosso país, mas era exigível ao Governo e todos os partidos políticos que traçassem um rumo e fizessem uma previsão daquilo que iria acontecer. Vários economistas afirmavam, outros duvidavam, mas pelo menos o Governo tinha a obrigação de divulgar qual era o estado das contas públicas, e de admitir que não tinha capacidade para evitar a entrada do FMI. A verdade foi-nos escondida, o FMI iria entrar em Portugal mais cedo ou mais tarde, restava era saber quando. E nestes compassos de espera que foram os sucessivos PEC's mais o Orçamento, o Partido Socialista montava a armadilha perfeita ao PSD. Porque eles sabiam da inevitabilidade do pedido de ajuda externa, mas foram comprando tempo com os PEC's, aguardando ansiosamente que o PSD caísse na asneira de chumbar um deles, para o Governo cair, e puderem acusar a oposição de criar uma crise política e querer assaltar o poder.
Na minha opinião, Pedro Passos Coelho foi bastante paciente para com o Governo. Apesar de não concordar com o Orçamento de Estado, o seu partido absteve-se para que este fosse viabilizado, e o PS garantiu inclusivamente, após as primeiras execuções orçamentais, tinha tudo sob controlo, que o país estava em condições de corrigir o défice e diminuir a dívida pública, e poucos meses depois, apresenta mais austeridade. Ou seja, afinal, o Orçamento de Estado não era suficiente. Julgo que foi aqui, que o PSD e o PS declararam guerra, e estava aberto o caminho para as eleições, porque o PSD não poderia dar nova carta-branca ao Governo, que havia mentido, quanto à capacidade de Portugal ultrapassar a crise sem ajuda financeira externa. Podem alegar que o PSD deveria ter viabilizado o PEC 4, e ignorar a mentira, para o bem do país, porque a entrada do FMI será pior. Nem isto é verdade, dado que a sua entrada era inevitável, o que o PSD fez foi chamar a ajuda externa o mais rapidamente possível, porque o Primeiro-ministro perdeu a credibilidade, e não é possível sermos governados com mentiras.
Portanto pensem bem, lembrem-se que o PS de José Sócrates governa há seis anos, e não há um mês (quando o PSD decidiu chumbar o PEC 4), pelo que a crise em Portugal não tem um mês, mas sim vários anos de governação "socialista", e que a entrada do FMI era inevitável, e o que eles pretendem é passar para a oposição essa culpa. Culpa que deveriam assumir. O Governo deveria demitir-se, e foi o que fez. Mas não para puder acusar a oposição de criar uma crise política, deveria demitir-se e declarar-se responsável pela crise e incapaz de a solucionar. Mas tal exigiria, certamente, que José Sócrates não se voltasse a recandidatar a Primeiro-ministro. E isso ele(s) não querem...

2 comentários:

Tiago disse...

realmente é verdade aquilo que dizes e são muitos os discursos de José Sócrates que estão ou errados ou têm contradições, quer na altura em que são proferidos quer mais tarde quando ele próprio se contradiz. Mas aquele que é mais flagrante e que muito boa gente parece esquecer é algo que foi dito hoje por um dos órgãos de comunicação social televisiva e é que Sócrates sempre admitiu e afirmou que não iria governar com o FMI e não o aceitava. No entanto voltou-se a candidatar a PM. é deplorável ver a facilidade com que muitos portugueses absorvem mentiras sem darem conta disso ou aceitando-as como se não fizesse mal.

Carolina disse...

Considero que hoje em dia os portugueses, muitos de nós, não têm qualquer conhecimento em termos de política nem sobre partidos, votando apenas pela cor e por outras razões que não justificam o voto. Acho que a política deveria ser mais bem conseguida e informar melhor as pessoas, em vez de andar em campanhas a gastar o dinheiro do Estado e, por consequente, o nosso!